Wellington Turman tinha 12 anos quando começou a se afastar das pessoas. Excessivamente tímido, o garoto curitibano encontrou no autoexílio uma forma de lidar com os questionamentos comuns à puberdade. Portanto, foi um ponto de virada quando um novo vizinho o apresentou ao universo das lutas. O adolescente começou a frequentar a academia, mudou sua relação com o próprio corpo e descobriu uma profissão. Essa jornada de autoconhecimento terá um novo capítulo no próximo sábado (24), quando Turman enfrentará o jamaicano Randy Brown no UFC Fight Night: Emmet x Topuria, que o UFC Fight Pass exibirá com exclusividade a partir de 12h30 (card preliminar) e 16h (card principal).
“Se você perguntar para o meu pai ou para a minha mãe eles vão dizer que não esperavam que eu me tornasse lutador. Eu nunca fui de briga, nunca fui disso. Sempre fui um cara muito tranquilo, mas entrei nesse mundo e gostei. Perdi a vergonha que eu tinha, aumentei minha autoestima e me apaixonei”, contou o brasileiro de 26 anos.
As doses de coragem advindas da autoestima foram fundamentais para a carreira de Turman. Em 2021, quando estava em um momento de questionar a própria carreira, o lutador foi convidado por um amigo para treinar nos Estados Unidos. Começou a fazer planos para ir em quatro ou cinco meses porque não tinha visto de turista, mas outro colega lembrou que ele tinha uma permissão de entrada a trabalho. O problema: eram apenas mais 26 dias de validade.
“No mesmo dia eu cheguei em casa e disse que precisava viajar em três semanas. Foi muito rápido. Nesse meio tempo eu fiz tudo: comprei passagem, arrumei lugar para ficar. Eu não estava numa época muito boa de dinheiro, e quando cheguei aos Estados Unidos estava pensando até em trabalhar ou fazer outra coisa, como dar aula, mas eu não falava inglês. Uma semana depois de chegar lá o UFC me mandou uma luta, mas eu estava muito pesado e não tinha como. Então eu disse que poderia lutar em um mês. Isso me ajudou muito”, disse Turman.
“O Glover é um cara incrível. Eu já o conhecia porque é muito famoso, mas nunca tinha conversado com ele. Quando cheguei aos Estados Unidos, ele me tratou bem desde o primeiro dia. Eu não tinha carro, o que era muito difícil. Estava pegando carona para ir à academia, e o Glover tinha uma van parada. Eu estava na academia havia uma semana, e ele me disse para pegar a chave. Foi uma benção na minha vida”, relatou Turman. “É um cara sensacional, que me passa conselhos de luta e vida. É muito inteligente, e eu sou muito grato por ter o Glover na minha vida”, completou.
A amizade entre os dois aproximou Glover até mesmo da família de Turman. “Meu pai treina jiu-jitsu. Ele fazia isso por hobby, mas chegou aos Estados Unidos e estava um pouco gordinho. O Glover pegou ele, botou para treinar, e os dois ficaram muito parceiros. Meu pai emagreceu bastante e está mais bonitão agora. Raspou o cabelo e está mais forte”, disse Turman.
O pai de Turman estará no octógono no sábado, em Jacksonville, mas não será o único apoio moral do curitibano. Ele também contará com a torcida da namorada, uma enfermeira norte-americana, com quem está há um ano e quatro meses. Os dois se conheceram por amigos em comum, e nesse ponto a coragem do brasileiro também teve papel fundamental.
“A gente começou a conversar por Instagram, e eu usava o tradutor para falar com ela. Ela não sabia nada de luta, e até achava que eu estava no WWE quando eu disse que era atleta. Agora ela ama, sabe tudo de UFC e vai até estar na luta”, explicou o brasileiro.
Nos primeiros dias de Estados Unidos, entre perrengues para se comunicar e encarar tarefas rotineiras, outra vez a coragem ajudou o brasileiro. Ele resolveu conversar com Glover Teixeira, ex-campeão dos meio-pesados do UFC, com quem dividia espaço na academia. Entrou fã e saiu amigo – tanto é que o ídolo estará no corner do curitibano no próximo sábado.
Relação com o Brasil e “a cura para a enxaqueca”
Quando se mudou para os Estados Unidos, Turman passou um ano e meio sem voltar ao Brasil. Hoje o pai e a mãe do atleta já têm visto para visitá-lo, mas a saudade de casa ainda é uma questão: “É uma vida muito boa aqui. Eu treino bastante, e às vezes acabo até esquecendo. Mas eu fui ao Brasil em janeiro, e isso renovou minhas energias. Eu vinha tendo um problema de enxaqueca, mas foi só estar em casa que isso melhorou. Acho que era um pouco de saudade”.
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