A apenas um ano do início das Paralimpíadas de Paris 2024, o desempenho esportivo de atletas regulares e paratletas é alvo de uma série de comparações e questionamentos. As diferenças entre os dois grupos podem ser complexas, uma vez que diversos fatores precisam ser cuidadosamente considerados para que sejam justas e relevantes. Tácio Santos, professor de Educação Física do Centro Universitário de Brasília (CEUB), comenta as condições e o desempenho em variadas modalidades, além dos desafios enfrentados por atletas paralímpicos.
As demandas esportivas podem variar consideravelmente entre a versão adaptada de um esporte e sua contraparte regular, devido às características físicas dos paratletas, bem como a influência de suas órteses ou próteses. Tácio Santos exemplifica a diferença entre esse desempenho a partir da recente análise de dados de grupos de competidores com características semelhantes ou diferenças que podem ser corrigidas: (1) atletas regulares sob a égide da International Powerlifting Federation; (2) paratletas competindo no âmbito da World Para Powerlifting.
O primeiro grupo foi objeto de estudo em 2021 por pesquisadores da Eslovênia e do Reino Unido. O segundo foi estudado na Universidade Federal de Sergipe em 2020. Ambos são representados por valores médios. Os atletas regulares tinham cerca de 26 anos, três anos e meio de experiência no esporte e pesavam 93 kg. Enquanto isso, os paratletas tinham a mesma idade, dois anos e meio de experiência e pesavam 78 kg. Diante dos padrões apontados, os atletas regulares levantaram um peso máximo de 151 kg no levantamento supino, enquanto os paratletas alcançaram 136 kg.
De acordo com o docente do CEUB, a análise mostra que, em condições semelhantes e com as devidas correções, os paratletas podem superar o desempenho dos atletas regulares. Isso se encaixa no conceito de eficiência esportiva: fazer mais com ele ou fazer o mesmo com menos. “À primeira vista, os atletas regulares parecem ter um desempenho 11% superior aos paratletas. No entanto, quando ajustamos esses valores para o peso corporal de cada grupo, a situação se inverte, revelando uma diferença de 11% a favor dos paratletas. Os regulares conseguiram erguer 1,61 kg para cada quilograma de seu peso corporal, enquanto os paratletas 1,80 kg.”
Essa constatação é mais evidente em esportes em que o desempenho é mensurado em unidades de medida, como o levantamento de peso básico. Nessa linha, embora não faça parte do programa olímpico, o professor explica que o levantamento supino possui uma versão paralímpica com poucas adaptações. “Também existem inúmeras demonstrações de eficiência dadas diariamente por pessoas com deficiência, que não podem ser quantificadas com a mesma exatidão, mas que podem ser identificadas se adotarmos uma abordagem adequada para analisar essas conquistas”, acrescenta Tácio Santos.
O professor considera a comparação entre atletas regulares e paratletas uma questão complexa que requer uma análise cuidadosa dos fatores envolvidos. O exemplo do levantamento de peso mostra que, quando as devidas correções são feitas, os paratletas podem alcançar desempenhos notáveis. “Isso nos lembra da importância de reconhecer e valorizar as conquistas de todos os atletas, independentemente de suas habilidades físicas, e de considerar adequadamente as circunstâncias únicas de cada modalidade esportiva”, completa.
Promoção da inclusão no esporte
Segundo o professor, as Paralimpíadas dão uma contribuição fundamental à sociedade por demonstrar que assim como pessoas sem deficiência, as pessoas com deficiência são capazes de feitos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais surpreendentes, uma vez que o esporte envolve todas estas dimensões. “Deste modo, acaba se tornando inerente que pessoas com deficiência são capazes de desempenhar as mais diversas atribuições também fora da esfera esportiva, desde que tenham oportunidade de se preparar e de atuar de maneira adequada às suas particularidades”, afirma.
Tácio também considera importante o incentivo para que pessoas com deficiência se tornem mais ativas fisicamente, pois mesmo que elas não queiram ou não consigam se tornar para atletas, terão os inúmeros benefícios que a prática de atividade física proporciona. “As Paralimpíadas também têm a capacidade de chamar a atenção de pessoas e instituições em diversos setores, da política à construção civil, que uma vez atentas à questão, podem tomar iniciativas que afetam diretamente o dia a dia dos milhões de indivíduos com deficiência, e de suas famílias, de maneira positiva”, ressalta.
Com o fim da pandemia, o especialista afirma que tanto o esporte Olímpico como o esporte Paralímpico têm um relativo recomeço em certo nível de igualdade, fazendo que os resultados Paralímpicos evoluam mais próximos dos resultados Olímpicos no futuro. “A perspectiva é utilizar o esporte para ajudar a construir uma sociedade mais inclusiva, uma vez que a COVID-19 evidenciou como as pessoas com deficiência têm menos acesso a saúde, educação, trabalho e participação social, consistindo em um dos grupos mais marginalizados da atualidade”, arremata.
Sobre o Esporte Paralímpico
De acordo com os dados divulgados pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, a primeira participação brasileira na história dos Jogos Paralímpicos foi em Heidelberg, na então Alemanha Ocidental, em 1972, e a primeira medalha do Brasil veio quatro anos depois. Na edição Toronto-1976, a dupla Robson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos da Costa garantiu a prata na modalidade “Lawn Bowls”. O crescimento dos resultados nos Jogos Paralímpicos ocorreu na década de 90. Em Atlanta-1996, o Brasil trouxe 21 medalhas, 200% a mais em relação às sete conquistadas em Barcelona-1992. Já em em Atenas-2004, o esporte teve alta de 50%, enquanto no Rio-2016, alcançou 67,4%, significativas evoluções demonstradas pelos atletas paralímpicos brasileiros.
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