Futebol feminino: disparidade salarial e a sexualização dos corpos femininos em um ambiente esportivo afetam atletas

Desde os primeiros passos no campo até os gramados das competições profissionais, o futebol feminino tem trilhado uma jornada de evolução no Brasil e no mundo. Contudo, essa trajetória ainda enfrenta desafios significativos. Para entender melhor a situação, Tácio Santos, professor de Educação Física do Centro Universitário de Brasília (CEUB) e especialista no tema, aborda os principais obstáculos enfrentados pelas atletas do futebol feminino em relação ao reconhecimento e valorização em comparação ao futebol masculino.

Apesar do crescente reconhecimento da modalidade como um esporte de alto rendimento e o aumento do número de atletas profissionais, ainda há uma série de desafios a serem enfrentados pelas atletas. Segundo o professor, uma dessas dificuldades está na percepção da modalidade como um esporte profissional, tanto em seu aspecto simbólico, com a valorização das jogadoras, quanto em sua sustentabilidade material. “A falta de recursos, infraestrutura adequada e investimentos limitam o desenvolvimento pleno do futebol feminino”, reivindica.

O docente do CEUB explica que o acesso a oportunidades é fundamental para o crescimento das atletas. A equação entre a capacidade individual das jogadoras e o ambiente em que atuam pode ser determinante para seu sucesso no esporte. “Infelizmente, em muitos casos, a disparidade entre o potencial das atletas e o ambiente desfavorável resulta em pontuações baixas, prejudicando suas carreiras e o próprio futebol feminino como um todo”.

O acesso a recursos, infraestrutura e investimentos é crucial para o desenvolvimento do futebol feminino, defende Tácio. Ele utiliza uma equação simples que considera a capacidade individual da atleta multiplicada pelas características do ambiente em que ela atua. A disparidade entre a capacidade individual e o ambiente desfavorável resulta em pontuações baixas para atletas, mesmo que possuam alto potencial. “Por outro lado, países com menor potencial humano, mas ambientes mais favoráveis, conseguem projetar suas atletas com maior sucesso”, critica.

O especialista ressalta ainda que a maioria dos profissionais envolvidos no futebol feminino é do sexo masculino, o que pode gerar dificuldades no tratamento adequado das particularidades femininas. “Essa questão manifesta-se tanto na negação dessas particularidades como em uma intenção genuína de compreendê-las, mas com dificuldades na formação e instrução sobre como proceder profissional e humanamente em relação às atletas do sexo feminino”.

Em relação à igualdade de gênero e às condições de trabalho e salários das jogadoras, o profissional destaca que muitas vezes as mulheres precisam se posicionar social e politicamente para defender sua posição no futebol feminino, dada a história de estigma que o esporte enfrentou no Brasil. Diversas questões trabalhistas também afetam as atletas, como a disparidade salarial entre gêneros e a sexualização dos corpos em um ambiente esportivo que está constantemente em evidência.

Para enfrentar esses desafios, Tácio Santos defende que diferentes agentes devem buscar maior visibilidade e respeito para o futebol feminino em suas respectivas áreas de atuação. Ele aponta que governos devem fomentar o esporte com investimentos e bolsas para atletas e pesquisadores. “Instituições esportivas precisam equiparar as condições e investir no futebol feminino da mesma forma que fazem com o masculino”.

Em termos de capilaridade do esporte, o professor do CEUB frisa que a sociedade também deve abraçar a modalidade, reconhecendo que a seleção de futebol feminino é tão valiosa quanto a masculina, e que os clubes devem se engajar em atrair público para o futebol feminino. “Com o engajamento de todos esses atores, é possível superar os desafios e construir um cenário mais justo e igualitário para o futebol feminino no Brasil, possibilitando que as atletas alcancem todo o seu potencial e contribuam positivamente para a sociedade”, arremata.

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